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Pedro Dias é o coordenador executivo da III Conferência Regional sobre Mudanças Globais: América do Sul
Publicado em: 31/10/2007,00:00
Notícias JC e-mail 3381, de 31 de Outubro de 2007. 9. III Conferência Regional sobre Mudanças Globais na América do Sul será aberta neste domingo Evento internacional discute mudanças climáticas, impactos e políticas ambientais No próximo domingo (4/11), será aberta a III Conferência Regional sobre Mudanças Globais: América do Sul, no Hotel Bourbon (ex-Hotel Blue Tree Ibirapuera), em SP, a partir das 18 horas. O pesquisador Luiz Gylvan Meira Filho (IEA/USP), um dos brasileiros que mais contribuíram para o IPCC, com participação destacada nas Conferências das Partes da Convenção do Clima pelo governo brasileiro, fará a conferência de abertura do evento. Durante as solenidades do dia, será inaugurada a Exposição Tecnológica que ocorre simultaneamente à conferência, com a participação de instituições de pesquisa, Universidades, sociedade civil e iniciativa privada. O ciclo de palestras e debates iniciam-se no dia seguinte (5/11). Serão quatro dias de apresentações e discussões, cada um deles dedicado a um tema específico. Na segunda-feira (5/11), o evento, essencialmente científico, abordará o tema A Ciência das Mudanças Globais; terça-feira (06/11), ainda sob uma perspectiva científica, mas apontando para questões de natureza política, o assunto será Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação. Na quarta-feira (7/11), um debate mais amplo, envolvendo setores público, privado e sociedade civil, sob o tema Evitando as Mudanças Climáticas, traz à discussão as políticas públicas em torno do problema e solução para o controle das emissões dos gases do efeito estufa. Por último, na quinta-feira (8/11), estarão em pauta aspectos de política externa relacionados ao Protocolo de Kyoto sob o tema O Futuro do Regime Climático Global. A Ciência das Mudanças Globais No primeiro dia de debate, na segunda-feira (5/11), pesquisadores de várias instituições brasileiras e de outros países sul-americano exploram os resultados do último relatório do IPCC, buscando mapear a fronteira do conhecimento sobre mudanças climáticas. A idéia, segundo o coordenador executivo do evento, o pesquisador Pedro Dias (IAG/USP), atual diretor do LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica), é formar uma agenda científica, que indique os rumos necessários à pesquisa com foco na América do Sul. Os trabalhos neste dia (5/11) serão coordenadores pelos pesquisadores Carlos Nobre (Inpe) e Jean Pierre Ometto (Cena/USP), ambos do Programa Internacional Geosfera-Biosfera (IGBP). As duas mesas redondas - Confiabilidade e Incertezas nos Resultados do IPCC 2007 e Águas e Mudanças Climáticas estarão, respectivamente, sob a responsabilidade de Maria Assunção Faus da Silva Dias, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do INPE, e de Carlos Eduardo Morelli Tucci, do Instituto de Pesquisa de Hidráulica (IPH), da UFRGS. Confira a seguir temas que serão abordados por palestrantes e debatedores: O pesquisador José Marengo, do Inpe, irá focar sua apresentação na distinção das causas das mudanças climáticas, de acordo com o último relatório do IPCC. Irá destacar as evidências da contribuição humana no aumento das temperaturas desde meados do século XX. O pesquisador afirma que ainda permanecem as dificuldades em atribuir mudanças de temperatura em escalas menores do que as continentais e menores do que o período de 50 anos. No entanto, o padrão de mudanças na precipitação continental, de acordo com a latitude e as tendências observadas de aumento nos extremos de precipitação, é consistente com uma resposta antecipada do papel da forçante humana. Outros possíveis indícios, como o aumento da freqüência de ciclones tropicais mais intensos, ainda não podem ser atribuídos ao homem pela falta de um conhecimento maior e consolidado sobre o fenômeno. O pesquisador Paulo Artaxo, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, afirma que processos relevantes em escala regional ainda não são levados em conta pelos modelos climáticos globais, especialmente aqueles relacionados aos efeitos dos aerossóis e nuvens. Existem também gaps de conhecimento, em particular, sobre os efeitos no ciclo hidrológico. Antonio Divino Moura, diretor do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), reforça a necessidade de melhoria dos modelos climáticos complexos de simulação. Moura defende esforços que produzam uma boa correlação entre dados do passado e simulações para períodos anteriores até o presente como estratégia para aperfeiçoar e assegurar a confiança nos modelos. Desta forma, os resultados poderiam ser utilizados na diminuição dos riscos climáticos e no melhor gerenciamento de riscos nos vários setores da economia. Carolina Susana Vera, da Universidade de Buenos Aires, também destaca a necessidade de aprimoramento dos modelos climáticos. Embora reconheça os avanços dos esforços internacionais empreendidos em torno da otimização do conjunto de modelos climáticos utilizados para o relatório do IPCC, Vera argumenta que a performance dos modelos ainda é precária em termos de uma resolução mais fina em escala temporal e espacial. A pesquisadora também destaca a necessidade de se ampliar as cooperações internacionais. O pesquisador do IAG/USP, Humberto Ribeiro da Rocha, chama a atenção para as superestimativas de extremos de chuvas e secas sobre a Amazônia, como apontado pelo relatório do IPCC. Ele argumenta que determinados processos representados pelos modelos climáticos deveriam ser revistos, como a resiliência da vegetação aos eventos de grandes secas, que podem levar artificialmente a padrões extremos do clima. O pesquisador Marcos Heil Costa, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), irá expor as relações entre o estoque e os fluxos de carbono de acordo com a variação do clima. Costa pretende mostrar como a concentração atmosférica de CO2 reage a essa interação, além de indicar as incertezas em relação ao ciclo do carbono global nas estimativas climáticas do IPCC. Outro ponto em aberto, não resolvido pelos modelos do IPCC, segundo Ilana Wainer, do Instituto Oceanográfico da USP, é como a circulação oceânica será afetada pelo aquecimento global. O aumento do nível global dos oceanos tem aumentado dois milímetros por ano, aproximadamente, no último século. O IPCC divulga a possibilidade de um aumento no nível do mar a uma taxa muito superior a qualquer índice nos últimos 150 anos. Segundo Wainer, o significado do aumento global do nível do mar e sua possível relação com o efeito estufa ainda é motivo de muita controvérsia. Outro pesquisador do Instituto Oceanográfico da USP, Edmo Campos, também chama a atenção para a importância de um esforço científico para se diferenciar as mudanças provocadas pelo homem das variações naturais do clima em escalas que vão da anual a inter-decadal. Ele defende a necessidade de se avançar no entendimento dos oceanos neste processo, já que possui papel fundamental no armazenamento e transporte de calor, carbono e outros elementos que impactam o sistema climático. O pesquisador destaca que o aumento da temperatura reduz a capacidade do oceano absorver carbono, o que poderá desencadear um processo de retro-alimentação positivo, aumentando ainda mais a concentração de CO2 na atmosfera. Campos lembra das possibilidades de mudanças climáticas relacionadas aos oceanos: degelo de parte substancial das calotas polares, aumento do nível médio do mar e modificação do sistema de circulação oceânica. E não descarta a possibilidade do desencadeamento de uma nova era glacial. No caso específico do Brasil e da América do Sul, o pesquisador lembra que o aumento do nível do mar pode causar inundações de vastas áreas litorâneas, alterações nos sistemas de ressurgências costeiras e intrusão de águas do mar em lençóis aqüíferos. Outra possibilidade, em decorrência do aumento da temperatura do oceano, é o surgimento de ciclones extra-tropicais do tipo Furacão Catarina, ocorrido em 2005. Jose Galizia Tundisi, do Instituto Internacional de Ecologia-São Carlos, investiga os impactos das mudanças globais na freqüência e intensidade no sistema de frentes frias e, em particular, nos ecossistemas aquáticos continentais e costeiros do sul e sudeste do Brasil. Tundisi adianta que uma proposta de modelagem está sendo desenvolvida para ampliar a capacidade preditiva do funcionamento dos sistemas e sua relação com o gerenciamento dos recursos hídricos. O pesquisador da Universidade Nacional da Colômbia, German Poveda Jaramillo, apresenta os efeitos das mudanças climáticas sobre os recursos hídricos na Colômbia, apontando impactos na agricultura, saúde humana e geração de energia hidrelétrica. Na mesma direção, o pesquisador da UFV, Luiz Cláudio Costa, ressalta que as alterações no ciclo hidrológico deverão afetar a disponibilidade de água para as culturas agrícolas. Costa afirma que estudos recentes indicam uma maior freqüência de secas em diversas partes do mundo, o que deverá trazer um grande impacto na produção e na produtividade agrícola. O pesquisador pretende discutir como as mudanças climáticas irão afetar a relação entre a transpiração da água e absorção de CO2, durante a fotossíntese, os impactos na agricultura e, conseqüentemente, na produção de alimentos. Reynaldo Victória, Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP, também discute as implicações das mudanças climáticas no ciclo hidrológico, com destaque para as incertezas relacionadas ao balanço hídrico na América do Sul. O foco será a região Amazônica e o Pantanal e o papel que exercem na definição de características do ciclo hidrológico das regiões sul e sudeste da América do Sul. Vicente Barros, da Universidade de Buenos Aires, aponta uma tendência de mudança no regime de chuvas nos últimos quarenta anos no sul da América do Sul. O pesquisador constata que a precipitação tem sido positiva a leste dos Andes e negativa a oeste das cordilheira e sobre elas. Tal tendência é refletida no volume médio dos rios destas regiões. Fonte: Assessoria de Imprensa do Inpe Assessoria de Comunicação Rita Juliano Natália Aquino 2233 6039