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Licenciatura em Computação, artigo de Daltro José Nunes - Jornal da Ciência / Notícias nº3522 de 30 de maio de 2008
Publicado em: 02/06/2008,00:00
O ensino dos conceitos básicos de computação na educação básica fornece o conhecimento necessário à formação do cidadão, tirando, inclusive, o espírito mágico e misterioso que rodeia o computador. Daltro José Nunes é professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, doutor em Informática pela Universidade de Stuttgart-Alemanha, mestre em Ciências em Informática pela PUC/RJ e engenheiro eletricista pela UFRGS. Artigo enviado ao JC e-mail: A área de computação é estratégica em todos os países. Ela permeia todas as atividades humanas, das artes às tecnologias, e não se pode imaginar, hoje, uma sociedade sem computador. A aceleração do processo de desenvolvimento de um país depende do quanto a computação está presente neste país. Não é sem razão que os países mais desenvolvidos do mundo lideram o desenvolvimento e as aplicações das tecnologias da informação. Olhando o Brasil como uma federação, a taxa de crescimento do desenvolvimento de cada estado depende do fortalecimento das políticas estaduais em relação a área de computação e suas tecnologias. A interdisciplinaridade ganhou na ciência da computação uma forte aliada. A fusão da ciência da computação com as ciências biológicas, por exemplo, criou uma nova área, a bioinformática, mostrando que processos biológicos são modelos de computação e conceitos como complexidade de algoritmos são aplicáveis. Numa sociedade desenvolvida não se pode imaginar o cidadão ignorante em computação, do ponto de vista da ciência da computação. A computação é tão ou mais importante como química, física etc. até porque, todo cidadão, no exercício de suas atividades profissionais, seguramente vai aplicar tecnologias da informação. Nos exterior, principalmente nos países desenvolvidos, os alunos, nos níveis correspondentes a nossa educação básica, assistem aulas de computação. Para tanto, se faz necessária a formação de professores especializados, da mesma forma como são necessários a formação de professores de matemática, de física etc. No Brasil, segundo a legislação vigente, os cursos responsáveis pela formação de professores são denominados de Licenciatura, adjetivados pela área de especialização. A Sociedade Brasileira de Computação tem um grupo de trabalho dedicado a estudar os cursos de Licenciatura em Computação. A Universidade Federal de Brasília-UnB, em 1997, inaugurou a criação desses cursos no país. Segundo o censo de 2006, realizado pelo Inep, existem no País setenta cursos de Licenciatura em Computação, assim distribuídos nas regiões do país: Centro Oeste - 12 cursos; Nordeste - 24 cursos; Norte - três cursos; Sudeste - 22 cursos; Sul - nove cursos. O ensino dos conceitos básicos de computação na educação básica fornece o conhecimento necessário à formação do cidadão, tirando, inclusive, o espírito mágico e misterioso que rodeia o computador. Esses conceitos passam por noções de modelos de computação, algoritmos, complexidade, autômatos, linguagens, arquitetura de computadores etc. Os alunos ao optarem, mais tarde, por um curso superior da área de computação estarão fazendo a opção com conhecimento de causa. Alem disso, a introdução, nas escolas, dos conceitos básicos de computação, diminui a carga de ensino de computação na educação superior. O ensino de aplicativos como Excel, Word, Navegadores etc não cabem na educação básica pois, equivaleria a ensinar a usar calculadoras e não a calcular. Os cursos de Licenciatura em Computação diferem um pouco dos demais cursos de licenciatura, uma vez que os licenciados adquirem habilidades para atuarem, também, fora do ambiente escolar. O conhecimento de computação, aliado aos conhecimentos pedagógicos, faz do professor de computação único para o desenvolvimento de tecnologias da educação. As áreas de desenvolvimento de sistemas para educação à distancia, de especificação de requisitos de software educacional, de avaliação de software educacional, de assessoramento na aplicação de software educacional, alem da capacidade de administrar laboratórios de informática das escolas, são próprias do Licenciado em computação. Inversamente, o uso de pessoas não habilitadas para atuarem nestas áreas é uma temeridade, pois erros cometidos, principalmente quando se trata de educar crianças, são catastróficos e muito difíceis de serem revertidos. Como já existe em alguns estados da Federação, faz-se necessário a abertura de concursos públicos, específicos para professores de computação, com a formação adequada. Os cursos de Licenciatura em Computação são considerados pelo CNE como cursos experimentais e, portanto, com Diretrizes próprias da área de Computação e Informática. Os cursos de Licenciatura em Computação, do ponto de vista da qualidade, são tão intensivos quanto os correspondentes bacharelados. A área básica de computação deve ser desenvolvida tão profundamente quanto os correspondentes bacharelados em Ciência da Computação. O professor de computação deve ensinar com conhecimento de causa e ter a capacidade de escrever livros didáticos. Diferentemente dos bacharelados, os cursos de Licenciatura em Computação desenvolvem uma formação profissional geral, como em banco de dados, em sistemas operacionais, em redes de computadores etc., mas uma formação profunda em Engenharia de Requisitos e Inteligência Artificial. Os cursos de Licenciatura em Computação se completam trabalhando as áreas de pedagogia, epistemologia e psicologia. Fonte: Jornal da Ciência / Notícias nº3522 de 30 de maio de 2008. Rita Juliano / Natália Aquino Assessoria de Comunicação LNCC Laboratório Nacional de Computação Científica 24 2233 6039 imprensa@lncc.br