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3ª Conferência Regional de Mudanças Globais (Pedro Dias - Diretor LNCC/Coordenador executivo do evento) - Notícias da ABC - 28 de novembro de 2007
Publicado em: 28/11/2007,00:00
A 3ª Conferência Regional de Mudanças Climáticas teve como referência fundamental a mais recente avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que considera que a maior parte do aquecimento global observado desde meados do século XX origina-se, muito provavelmente, no aumento da concentração de gases de efeito estufa de origem antrópica, ou seja, causado pelo homem. A contínua emissão desses gases e a manutenção do desmatamento no século XXI nas mesmas taxas que atualmente têm potencial para causar mais aquecimento e levar às mudanças climáticas globais, que serão muito provavelmente maiores que as observadas no século XX. O IPCC também afirma que é muito provável que os eventos climáticos extremos (ondas de calor, secas, enchentes) vão ser mais freqüentes no futuro próximo. Na conferência, foi apresentado o estado da arte do conhecimento científico regional relacionado ao tema, numa abordagem multidisciplinar. Realizado em São Paulo entre 4 e 8/11, o evento contou com o Acadêmico Pedro Leite da Silva Dias como presidente dos Comitês Executivo e Científico, e como participantes de um ou de ambos os Acadêmicos Carlos Nobre, Celso Lafer, José Goldemberg, João Steiner, Jose Galizia Tundisi, Luiz Pinguelli Rosa, Paulo Artaxo e Umberto Cordani. O presidente do Comitê Executivo Pedro Leite destacou que com a divulgação do relatório do IPCC e o fato de o IPCC ter recebido o Prêmio Nobel da Paz, o tema Mudanças Climáticas ganhou visibilidade em todos os setores da sociedade. Segundo o Acadêmico, o evento em questão teve como principal objetivo buscar parcerias com o empresariado. A idéia foi chamar a atenção para a vulnerabilidade do setor produtivo e as oportunidades surgidas com as mudanças climáticas, visando uma maior integração com a academia. O Acadêmico Adolpho Melfi, representando o vice-presidente da ABC Hernán Chaimovich, reiterou a necessidade de reunir o setor acadêmico e o empresariado e ressaltou a preocupação da ABC com o tema, retratada nas diversas conferências realizadas visando a contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas relacionadas ao tema. O representante do Ano Internacional do Planeta Terra no MCT, Carlos Oiti Berbert, destacou que as mudanças climáticas e os desastres naturais são um dos dez itens prioritários na programação do Ano Internacional. Este tema é um dos mais visíveis para a população pelas conseqüências diretas que trazem a ela mesma. Representando o reitor da Unesp, Marcos Macari, o geógrafo João Lima Sant'Anna Neto sublinhou que mudanças climáticas é um dos três temas mais importantes a serem bem resolvidos para o futuro da humanidade, junto com o estudo do genoma humano e o desenvolvimento e aplicação de nanotecnologias. O IPCC tem feito um belo trabalho e este evento é uma prova da contribuição do Brasil para a melhoria da qualidade do conhecimento, vista a multidisciplinaridade representada aqui e a participação de ONGs, sociedade civil e das empresas privadas. Esta comunhão de interesses nos fará avançar rapidamente. O matemático do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp, Jurandir Zullo, referiu-se a uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que colocou o Brasil como o mais preocupado com as mudanças climáticas entre os países pesquisados, em todos os setores. A resposta para esta preocupação tem sido e será dada por pesquisas, estudos e oportunidades criadas com o envolvimento da iniciativa privada e empresarial. Esta situação de mudanças climáticas é nova situação, e nós temos que tornar o assunto multidisciplinar e prepará-lo para as próximas gerações. O palestrante da noite foi o Prof. Luiz Gylvan Meira Filho, engenheiro eletrônico e astrofísico, atualmente professor visitante do IEA-USP, que atuou como secretário de Políticas e Programas em Ciência e Tecnologia do MCT, foi presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), diretor científico do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudança de Clima (IPCC), entre outros cargos de destaque internacional. Gylvan contou a história do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC) e falou sobre a natureza do seu papel. O IPCC é único na História, pois é uma instituição mantida pelos governos dos Estados que são membros da Organização Meteorológica Mundial ( OMM ) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente ( PNUMA ). Na prática, isso significa que todos os países do mundo estão envolvidos. O IPCC não conta com uma contribuição mandatária dos governos, mas sim voluntária. O trabalho do IPCC consiste em reunir cientistas de todo o mundo, sem receber salário, para desenvolverem relatórios de várias naturezas. No sistema atual, os mais conhecidos são os Relatórios de Avaliação, tendo sido o primeiro foi publicado em 1990. A origem conceitual, segundo Gylvan, foi um relatório de 1971. Foi feito um estudo, através de um painel, sobre a possibilidade de conseqüências das interferências do homem no clima. Os resultados foram expandidos para um estudo internacional, conduzido pela Academia de Ciências da Suécia, com a esperança de que provocasse uma reflexão sobre a relação do homem com o meio ambiente. Ainda não se falava em mudanças globais, contou o cientista. Gylvan recorda que na década de 80, em razão de eventos extremos no Hemisfério Norte e pela constituição americana , a Academia de Ciências dos Estados Unidos foi obrigada a analisar as questões relacionadas ao clima. Foi criado um painel com três grupos de trabalho: um para analisar o estado do conhecimento sobre a ciência, outro para analisar os impactos e um terceiro sobre as estratégias de resposta. Houve uma decisão política para que se fizesse estes estudos, não só na esfera norte-americana, mas também na esfera mundial. O lado mais visível do IPCC é a produção desses relatórios: o 1º em 1990; o 2º em 1995; o 3º em 2001; e o 4º em 2007. No 1º relatório havia uma proposta de uma convenção sobre a mudança do clima, que não aconteceu. Mas adotou-se a resolução sobre a proteção do clima para futuras gerações e também foram separadas as decisões políticas das científicas, explicou Gylvan. Na opinião do cientista, o IPCC tem se mantido, razoavelmente, longe do debate político. O grupo de trabalho I avalia os aspectos científicos do sistema climático e de mudança do clima. O grupo II olha os impactos e faz previsões, separando a vulnerabilidade e a adaptação natural. O grupo 3 começou com estudos do comportamento econômico. Além desses, o IPCC tem feito relatórios extremamente importantes, mais especializados, abordando assuntos como a camada de ozônio e o sistema climático, concluiu Gylvan. O evento foi realizado pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP), Planeta Terra / MCT e Academia Brasileira de Ciências, com patrocínio da Petrobras e Vale do Rio Doce; Votorantim, AES Tietê, Arcelor Mittal, Natura e Sabesp; Agência Nacional de Águas (ANA), BNDES, Capes, CNPq, Fapesp, Finep, MCT, MDIC e MMA. (Elisa Oswaldo-Cruz e Clara Gondin para Notícias da ABC) Assessoria de Comunicação Rita Juliano Natália Aquino 22336039