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3ª Conferência Regional de Mudanças Globais (Pedro Dias - Diretor LNCC/Coordenador executivo do evento) - Jornal da Ciência/Notícias - 05 de novembro de 2007 ; Agência CT/Notícias - 06 de novembro de 2007
Publicado em: 05/11/2007,00:00
Publicada por: Agência CT / Notícias em 06 de novembro de 2007 JC e-mail 3383, de 05 de Novembro de 2007. 13. Conferência sobre mudanças globais discute impacto e adaptação às mudanças climáticas No segundo dia da III Conferência Regional sobre Mudanças Globais: América do Sul, nesta terça-feira (06/11), o tema central dos debates será "Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação" Os trabalhos no período da manhã estão sob a coordenação do pesquisador Reynaldo Victória (CENA/USP, Brasil). Estão previstas quatro palestras, com início às 10 horas, e à tarde, a partir das 14 horas, duas mesas redondas, sob os temas "Ecossistemas Agrícolas e Naturais", sob a coordenação de Márcio de Miranda Santos e, a segunda, "Aspectos Urbanos", sob a responsabilidade de Marcelo Khaled Poppe. Os dois pesquisadores são do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). O evento (www.mudancasglobais.com.br), promovido pelo Instituto de Estudos Avançados (USP) e Academia Brasileira de Ciências (ABC), está sendo realizado no Hotel Bourbon (ex-Hotel Blue Tree Ibirapuera). Palestras e debates irão se estender até a próxima quinta-feira (08/11). As apresentações desta terça-feira têm como referência os cenários de mudanças climáticas apontados pelo último relatório do IPCC, em decorrência do aquecimento global. Com a forte possibilidade de aumento de temperatura, mudanças no padrão de intensidade e volume das chuvas em algumas regiões do planeta, pretende-se refletir e discutir os possíveis impactos em diversas áreas da vida econômica e social dos países sul-americanos, e assinalar a necessidade de políticas públicas que indiquem ações adaptativas, mitigadoras e preventivas. Na primeira palestra do dia, às 10 horas, o pesquisador do Inpe, Carlos Afonso Nobre e também Presidente do IGBP, afirma que estudos de modelagem das interações clima-vegetação apontam que o aquecimento global e o desflorestamento em larga escala das florestas tropicais podem induzir a substituição de biomas na América do Sul. As porções mais atingidas seriam as florestas do leste, sudeste e sul da Amazônia, a vegetação seca do nordeste brasileiro e a Mata Atlântica. De acordo com o pesquisador, um aquecimento global acima de 3ºC na Amazônia pode induzir um processo de savanização sobre a parte leste da região. As regiões áridas e semi-áridas do nordeste tendem a se tornar mais secas com o aquecimento global e a Mata Atlântica se projetaria para as regiões sul do país, estendendo-se até o Uruguai. A pesquisadora Maria Carmen Lemos da Universidade de Michigan, dos Estados Unidos, discute a questão da adaptação no Brasil sob a ótica das políticas públicas. Lemos irá explorar as oportunidades e barreiras para a integração das mudanças climáticas no desenho e na implementação destas políticas. Ela argumenta que a capacidade de adaptação às mudanças climáticas depende da colaboração dos diversos atores públicos e privados, e também da integração de políticas, tomadas de decisão e implementações articuladas desde o nível local até o global. Roberto Rodrigues, da Fundação Getúlio Vargas, abordará o tema da agroenergia. Ele esboçará os cenários da agricultura mundial, enfatizando o início da era dos combustíveis renováveis e dos biocombustíveis. Sob a perspectiva das mudanças globais, abordará problemas e oportunidades relacionados aos impactos econômicos, sociais e ambientais, procurando ainda sinalizar para os mitos em torno dos biocombustíveis. Na primeira mesa-redonda do dia, Alejandro Leon, da Universidade do Chile, descreve que no norte do Chile, sob o clima semi-árido, coexistem dois sistemas agrícolas distintos, um irrigado e outro não, sob a presença de fazendeiros ricos e pobres. Políticas públicas voltadas à irrigação das terras dessa região têm melhorado a produção e diminuído a pobreza rural. No entanto, afirma o pesquisador, as políticas públicas podem apresentar limitações se não levarem em conta as mudanças climáticas e a diminuição das chuvas nesta região. O pesquisador da Unicamp, Carlos Alfredo Joly, ressalta que a rica biodiversidade da biota da região conhecida como "Neotropical", na América do Sul, é fruto de um processo colossal que combina um longo período de tempo e a especificidade da formação geológica desta região. Ao considerar o risco desta biodiversidade pelo contínuo desmatamento e pelo aquecimento global, o pesquisador acredita que a solução dos problemas associados às mudanças climáticas está fortemente associada ao uso sustentável da biodiversidade. O pesquisador propõe uma postura mais arrojada de políticas públicas a partir da redução das taxas do desmatamento e implantação de um novo modelo de desenvolvimento mais sustentável e ambientalmente correto, capaz de reduzir no país a taxa de emissão de gases de efeito estufa em 20%. Eduardo Delgado Assad, da Embrapa, analisa os impactos das mudanças climáticas na agricultura, em decorrência do aumento da temperatura e das mudanças na precipitação pluviométrica no Brasil. O pesquisador destaca que para responder a tais questões é preciso antes resgatar informações sobre a evolução do clima, observar as análises de longas séries de dados de temperatura e buscar as evidências de efetivas mudanças climáticas. Por outro lado, Assad afirma que é possível, com o auxílio de modelos meteorológicos, avaliar os efeitos da elevação de temperatura na produção agrícola e os reflexos no zoneamento de riscos climáticos feito para o Brasil. O pesquisador da USP, Guilherme Leite da Silva Dias, busca respostas para a construção de um ambiente estimulante para a inovação tecnológica voltada à diminuição e captura dos gases do efeito estufa, ou ainda para um padrão alternativo de consumo mais adequado ao controle dos efeitos que contribuem para o aquecimento global. O pesquisador indaga sobre os mecanismos que levam a geração de tecnologias associadas ao desenvolvimento sustentável, apontando ao mesmo tempo, as incertezas ainda existentes em torno do padrão de credibilidade dos certificados do MDL (mecanismos de desenvolvimento limpo). Para a segunda mesa redonda, sob o tema "Aspectos Urbanos", Ana María Murgida, da Universidade de Buenos Aires, da Argentina, sugere a revisão da noção de "homem" implícita nas medidas institucionais quando trata dos impactos das mudanças climáticas. Este sujeito abstrato é, geralmente, considerado um sujeito passivo, sem capacidade de intervenção, quando resultados de estudos de caso sobre instituições e práticas cotidianas, mostram o contrário. A pesquisadora ressalta ainda que a discussão sobre prevenção, mitigação e adaptação frente às catástrofes previstas com as mudanças climáticas necessitam de um trabalho de particularização (downscaling) referente aos aspectos sociais. Tais estudos são importantes, principalmente, em países de elevada vulnerabilidade social e institucional. Sob tal perspectiva, Murgida pretende discutir também as possíveis estratégias de adaptação em âmbitos urbanos, os obstáculos enfrentados na gestão das cidades e as capacidades que podem ser aproveitadas na procura de processos de prevenção de catástrofes. Carlos Eduardo Morelli Tucci, do Instituto de Pesquisa de Hidráulica (IPH), da UFRGS, discute as incertezas e medidas de mitigação para a gestão da infra-estrutura urbana, considerando a variabilidade e as mudanças climáticas. Ele afirma que o condicionante climático e o uso e ocupação do solo são as principais fontes dos impactos que reduzem a qualidade de vida, principalmente em países em desenvolvimento. Portanto, a gestão do solo e o melhor entendimento do clima são fundamentais para mitigar e preparar as cidades para a busca da sustentabilidade ambiental. Morelli destaca a correlação entre a variação climática e índices de chuva com abastecimento de água e o tratamento de esgoto. Helena Ribeiro, da Faculdade de Saúde Pública, da USP, pretende discutir a influência das condições atmosféricas na saúde, através de alguns fatores, como troca de calor, radiações, poluição do ar e precipitação. Pesquisas realizadas na cidade de São Paulo sugerem haver influência conjunta da poluição do ar, mudanças bruscas de temperatura e enchentes na saúde pública, agravada por condições inadequadas de moradia. Segundo a pesquisadora, é difícil correlacionar um fator isolado com mudanças nas condições de saúde. No caso da poluição térmica, efeitos potenciais à saúde podem variar de sintomas sub-clínicos, ou incômodos, passando por desconforto e estresse fisiológico, agravamento de doenças respiratórias e cardiovasculares, até o aumento na taxa de mortalidade. O pesquisador da Universidade do Chile, Hugo Ivan Romero, destaca que o crescimento espacial das metrópoles chilenas - Santiago, Valparaíso e Concepción - tem gerado e fortalecido mudanças climáticas locais que se associam às mudanças globais. Tal situação tende a trazer maiores riscos e ameaças aos habitantes destas grandes cidades, como também a perda de qualidade de vida. Através de imagens de satélite, o pesquisador mostra o aumento das ilhas de calor e a perda de ilhas frias no interior das áreas urbanas denotando um complicado panorama ambiental frente ao processo de aquecimento global. Outros problemas urbanos deverão ser abordados, como a duplicação da impermeabilidade do solo, com a conseqüente diminuição da evaporação e evapotranspiração, da infiltração e reabastecimento de aqüíferos, além do aumento do risco de inundação. O aumento da verticalização e dos coeficientes de rugosidade, com a perda de ventilação no interior das cidades, completa um quadro de diminuição da resiliência dos sistemas urbanos ante os cenários de mudança climática. Para enfrentar tal situação, Romero propõe planos especiais de gestão ambiental para as metrópoles chilenas e latino-americanas. Marcelo Furtado, do Greenpeace, afirma que a luta contra o aquecimento global oferece uma oportunidade única para transformar o discurso do desenvolvimento sustentável em prática. O ambientalista sugere salvar as florestas, a biodiversidade e o povo que nela vive com a redução das emissões dos gases do efeito estufa e ao mesmo tempo com a utilização de uma matriz energética limpa e descentralizada. Furtado acredita na possibilidade de desenvolvimento, com reduzir das emissões, desde que sejam adotados mecanismos que permitam zerar o desmatamento na Amazônia. Para isso, considera fundamental a maior presença do Estado na região, no combate à corrupção, o fortalecimento das instituições responsáveis pela implementação e fiscalização das leis ambientais e a promoção da conservação e do uso econômico responsável da floresta. No setor energético, Furtado defende a necessidade de políticas públicas, leis e investimentos para o desenvolvimento de um mercado nacional para energias limpas e renováveis como a solar, eólica, além da construção de pequenas centrais hidrelétricas e de biomassa. Por outro lado, Furtado sugere o fim do Programa Nuclear Brasileiro, com a renúncia da construção da usina nuclear de Angra 3. (Assessoria de Comunicação do Cptec/Inpe) Assessoria de Comunicação Rita Juliano Natália Aquino 24 2233 6039